domingo, 10 de agosto de 2008

Afoice e rosamística...


Fato consumado – o resgate continua...

A tempestade castiga os montes
Ingremes a pousar os céus, incandescentes
Raios e trovões descem a procura de vítimas...

Elas, em acalento (re)pousam na ignorância
Vigiadas pelas trevas que espreitam suas carnes
O sangue lascivo escorre ao canto da boca...

No mais íngreme dos montes, do alto castelar
Onde as trevas fazem acordos, firmam território
com macabras seitas idólatras que pregam a suposta luz...

Afoice desembaia seu instrumento de lâmina quase ocre
Tantas as ceifas que adentraram seus caminhos
E desce em disparada ruminante às vítimas desvalidas...

Resoluto caminha entre os vivos-mortos, inspira seus suores
Odores que vem e que vão, até o faro certeiro da vítima loquaz
E quando a fita, embriaga-a com seu olor lascivo e sedutor...

É fêmea tesa de tenra idade, de corpo viril e massa percular
Musculatura esguia e ossos bem distribuídos, seios voluptuosos
De pontiagudos, róseos e bruscos mamilos, quadris largos à perfeição das rosas...

Vítima perfeita a saciar os desejos mais animalescos e cruéis,
a violação da beleza carnal, a escorrer suores e calafrios
e deixar babar qualquer talo, a deixar escorrer o gozo vaginal...

Os olhos vítima captam a energia de afoice, e no fitar os seios enrijecem
O corpo treme de um frio insuportável, a espinha estilhaça em esforço a se curvar
E posta ao chão, de joelhos se põe em felação, afoice deixa-se em êxtase...

Os minutos correm enquanto espermas abundam a boca,
e na ânsia da última ejaculada desfere-lhe o golpe certeiro de libertação
o sangue lhe esguicha o rosto, como em vingança à decapitação...

Um sorriso cínico e indolor lhe recobre a face, recolhe-se o talo
Embaia-se a foice, mais uma carne mensurada na conta de tantas vidas,
Mais uma alma aflita que jaz nesse mundo de ilusões e de crenças vazias...

Assim, satisfeito seu gozo jugular, de cambaleante andar observa,
Vivos mortos a lhe suplicar, volte ao seu mundo divino mestre,
A profecia está em curso, de quando em vez vem nos libertar...

Caminha agora passos acompanhados por um olhar tênue e viril
Olhar que acompanha em diminutos segredos o trajeto e o feito
Que macula a sua ânsia de retornar, observa e atrai...

A mácula - A ânsia do retorno...

Rosamística espreita o trajeto de Afoice, no silêncio bruto do segredo
Posta-se ao longo do caminho, sabendo que sua face não pode desvendar
Inclina-se em silêncio, sob a poça esperma está, prova-lhe a seiva e simula que se vai...

Já em seu umbral no alto monte, volta-se em semi-círculo, olhar captado
Sua foice se agita, sua manta negra banhada em sangue revoa em contrários
E quando se posta esguio e certeiro no olhar, avista rosamística a lhe beber...

De salto lhe rompe ao peito a ânsia desferida em desembaiar a sua foice, arrefece
E seu ânimo em desalinho se combale frente ao susto de rosamística observada,
Ela se volta e seus olhares se cruzam, faiscantes olhos afoice encontram temerosos
Mas viris olhos rosamísticos...

Ânimo arrefecido, a foice adormece em sua cinta, o sangue corre mais denso
A palpitação silencia, talo satisfeito e alma na conta do resgate, trabalho feito
O descanso merecido, desce lentamente de seu umbral e retoma o caminho da execução...

Do encontro dos olhares as distâncias se tornam diminutas, em segundos
Se deparam, se olham, se cheiram, odores, olores, cores e batom
A seiva ainda úmida no chão do encontro, exala o cheiro de sêmen e carmim...

Logo suas mãos se cruzam e das mudas bôcas ressoam palavras ao vento
Verbalizadas nos gestos e no caminhar preâmbularmente executório, destino
Mas, a mácula do olhar freia o ânimo dos resgastes, e assim caminham ao coito anunciado...

Passado o umbral do seu reino, a tiracolo o olhar róseo-místico em transe
Postam-se sob a mesa do grande executor e desferem-se golpes labiais profundos
Densos, tensos, que o pêndulo de afoice tece fundo a malha vaginal de rosamística...

E no tecer daquelas malhas, muitas manhas, muitos desejos e virtudes, ocultas nas entranhas dos opostos, como o dia que anuncia a noite, como a noite que agasalha
E enternece, a chegada dos notívagos desgarrados, se perdem e se acham no eterno contraditório...

Freneticamento se postam em variadas formas e posições são privilegiadas, de jeito que Afoice e rosa gozam abundantemente, se lambuzam e se acusam, se defendem e são escusos, são putos e devassos, e num simples abraço, singelo se elevam, eis a luz...

Adormecidos de um dueto-uno luz, olham-se, se aconchegam, Afoice desembaia a sua foice, despe-se em pelo e repousa no umbral os seus pertences... Nu, completamente nu, rosamística mira-lhe a face, e percebe correndo abaixo dos olhos lágrimas de sangue...
Em uníssono, despe-se e impinge a Afoice proximidade, e repousa-lhe a cabeça
Em seu colo eternal e lúgubre, acaricia-lhe a face, e desdenhando os sentidos humanos
Olha com ternura Afoice e suspira, em pensamentos declama: Serás hoje meu algoz?

Afoice levanta seus olhos rubros de carmim e sangue, e desfere uma flecha certeira
De condenação e esperança, e lhe responde: O que pensas em segredo, eu leio em voz alta, te respondo que hoje com certeza, serás poupada pela minha realeza, mas amanhã...

E assim, Afoice e rosamística adormecem no umbral do mundo das trevas...



julho de 2008 - Todos os direitos reservados a Roberto Girard


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